2# experiência – rede

A rede não projeta a si mesma. Nós é que a projetamos.

Jaron Lanier em Bem-vindo ao futuro: uma visão humanista sobre o avanço da tecnologia.

Conforme Byung-Chul Han em a Sociedade do Espaço as “doenças neuronais como a depressão, transtorno déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), Transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout (SB) determinam a paisagem patológica do começo do século XXI. Não são infecções, mas enfartos, provocados não pela negatividade de algo imunologicamente diverso, mas pelo excesso de positividade” (2015, 7-8).

No tempo presente esta positividade está na quantidade de informações que carregamos. Visite o centro de uma cidade no mês de janeiro e depois em julho, que constatará que os modelos de eletrodomésticos, maquiagens e roupas mudaram de cores, estilos e funcionalidades. Logo, dependendo de como agimos e somos, vamos estar a propensos em pensar que: 1. estamos passado de moda e aceitamos ou 2. precisamos nos atualizar porque tal objeto é funcional para nossa vida corriqueira. Geralmente, a segunda tende a ser escolhida.

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Esses exemplos parecem ser vazios, contudo eles nos informam que nós mudamos porque reagimos a uma pressão produzida, normalmente feita por estratégias comerciais invisíveis que são desenvolvidas a partir das nossas informações. Essas informações são colhidas pelos dispositivos móveis por rastreamento. Somos nós que projetamos a rede de informações.

Conforme HAN (2015, p.31) estamos em dois polos da globalização onde o capital é desterritorializado e descentralizado e a multidão é composta por um conjunto de singularidades que agem juntas.

Isso nos recorda o que Milton Santos (2000) afirma sobre a globalização ser um processo que objetiva a expansão plana das informações.

O que nos torna pensativos quando pensamos quem estão nos extremos das pontas.

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Por isso, ao mesmo tempo que a globalização pode ser prometeica, ela pode ser fáustica. A globalização, observando pelo informação via telefone e internet, foram benéficos em um mundo pós-guerra que retornava do período de escassez, de expansão do movimento bélico, mortes, avanço da ciência e criação da ONU . Entretanto, o pensamento de que nos tornaríamos melhores, trouxe outras consequências – estas seja dita de passagem levantadas de modo apocalíptico por Flusser em Pós-história: vinte instantâneos e um modo de usar.

A primeira consequência se relaciona a a essa rotina de desempenho: precisamos ser melhores que outros lugares; precisamos publicar; precisamos ser autossuficientes espiritualmente; precisamos alcançar nossos objetivos. Precisamos ter um desempenho.

Você já se perguntaram se mudamos porque queremos ou porque somos submetidos?

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A pergunta aqui posta não é debater o final do filme Laranja Mecânica, mas sim a nossa auto-exploração pela cultura dos algoritmos que está em nosso cotidiano, uma vez que “a maneira de proceder do digital, é justamente, a da adição” (HAN, 41, 2015)

Adição tem a haver com hierarquiza e ranquear tudo o que nos cerca ” a comunicação não é mais comunicativa, mas sim acumulativa” (HAN, p. 106, 2015)

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Nós ranqueamos porque os objetos podem ser comparados e balanceados em suas funcões. Atualmente ranqueamos (e somos ranqueados) ainda mais porque o algoritmo em sua linguagem é um dado que tem por objetivo explorar os melhores caminhos para obter informações que lhe sejam mais configuradas as suas necessidades programadas.

Além disso, o algoritmo é um processo feito pelo ser humano e dentro das normas da ciência, por causa disso a sua própria existência quando legitimada por outros pela sua neutralidade cai por terra quando abordamos sobre ética.

No livro A sociedade do controle (2018) podemos ler vários casos de como o algoritmo tornou-se um meio que manipula e molda os seres humanos, especialmente pelas redes digitais. Contudo, ele só se concretiza porque permitimos “As principais plataformas de relacionamento online não produzem conteúdos. Não realizam discursos, nem criam narrativas. Quem faz o conteúdo do Facebook, Youtuber, Twitter, Instagram, LinkedIn, Snapcht são seus próprios usuários” (SOUZA; AVELINO; DA SILVEIRA, p.36, 2018).

Ou seja, o algoritmo circula conforme a cultura do momento, a cultura predominante que consegue alcançar o capital e modular conforme seus interesses, especialmente de que somos bons, mas poderíamos ser melhor.

Deste modo, nossa segunda consequência é relacionada a cultura algorítmica.

Continua em a 3# experiência.

Referências consultadas:

HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço Trad. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.

______ . No enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2017.

LANIER, Jaron. Bem-vindo ao futuro – uma visão humanista sobre o avanço da tecnologia. Trad. Cristina Yamagami.  São Paulo: Saraiva, 2012.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. 18 ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2009.

SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; DA SILVEIRA, Sério Amadeu (orgs.). Sociedade de controle – manipulação e modulação nas redes digitais.