O Twitter e o curioso caso da divulgação do ir(real)

Na sequência sobre a definição dos objetos editoriais que, como já dito, pretendo focar naquelas que circulam pelas redes sociais, inicio os tateamentos a partir de publicações no Twitter. A circulação, em um grande número de canais, de meias verdades, por meio de notícias (parcialmente) falsas confundem o (e)leitor, principalmente por serem baseadas em fatos, em acontecimentos reais.

De acordo com o artigo “The russian ‘firehosing of falsehood’ propaganda model”, tais notícias entretêm, confundem e esmagam o público, além de serem muito persuarsivos. No Brasil, as redes sociais Facebook e Twitter são muito utilizadas para disseminar tais informações, com especial atenção à segunda rede social e pelo whatsapp, ostensivamente. Como veremos, não somente nas redes sociais – que divulgam e tornam a notícia massiva -, mas aparecem também nos jornais televisivos, blogs, por meio de entrevistas, etc. Há, então, uma variação grande de canais, porém há o uso exaustivo na divulgação pelas redes sociais.

Se houver pouco volume de informação, os leitores acreditam nos experts, conforme o autor; se houver um grande volume de informação, acreditam nesses sujeitos com quem dividem crenças. Dessa forma, o volume alto consome a atenção e pode oprimir as mensagens que competem com elas em um fluxo de discordância.

A fim de exemplificar, parto para uma postagem pública no Twitter, publicada em 26 de maio deste ano a respeito de um tema recorrente desde 2011: o kit gay. Por meio da ferramenta de busca desta rede, procurei verificar postagens recentes a respeito desse assunto. Grande parte das postagens ironizam o termo, mas muitos delas ainda tentam comprovar a veracidade desse kit.

Eis uma delas:

O vídeo completo da entrevista com o prefeito Marcelo Crivella pode ser visto aqui. Este excerto pode ser assistido por volta dos onze minutos.

No vídeo, o prefeito do Rio de Janeiro reafirma a existência do kit gay, ainda que, durante a campanha para eleições presidenciais, o TSE tenha proibido o então candidato Jair Bolsonaro parasse de disseminar tal notícia, gerando desinformação no período eleitoral, com prejuízo do debate político. De acordo com Crivella, havia princípios para que não houvessem banheiros femininos e masculinos, de se referir aos alunos como estudantes – de modo que não se destacasse o gênero dos alunos -, com a intenção não de acabar com o preconceito, assim como pontua a jornalista Mônica Bérgamo, que retoma o termo anteriormente mobilizado pelo prefeito durante o entrevista, mas de incentivar a tal “ideologia de gênero” e, que para saber disso, você “tem que experimentar”.

Ainda que esta questão tenha sido vetada pelo TSE, entendendo o fato como sabidamente inverídico, o tal kit ainda continua sendo divulgado e acreditado. Ou seja, ainda que uma instância, como o Tribunal Superior Eleitoral afirme que a divulgação dessa informação é falsa, a divulgação do kit gay continua sendo feita como real. Dessa forma, entende-se que não é uma criação falsa de algo, mas uma interpretação equivocada – e com interesses escusos – do que seria a divulgação dos materiais nas escolas públicas contra a homofobia.

Postagens como “a verdade nua e crua”, “Houve sim o kit gay! E aí petralha?” são algumas das postagens que viralizam o vídeo feito pelo prefeito.

Nesse momento, paro e me pergunto: meu objeto é a disseminação destas notícias ou as notícias? E mais: diferencio isso como, se as redes sociais estão cheias de diversos gêneros para comprovar o próprio argumento? Será que preciso diferenciar ou entender que a disseminação maciça, proporcionada pelas redes sociais, corroborou para que este fenômeno definisse, por exemplo, o resultado de algumas eleições pelo mundo?

Uma coisa me parece clara: faz sentido o primeiro item do firehosing, a partir dessa pequena análise: um grande número de canais e mensagens e uma vontade de disseminar notícias (parcialmente) falsas. E a ideia de que o volume alto de mensagens traz a impressão de realidade também pode ser comprovado pela (in)existência do kit gay.