Sobre os clichês e a escrita

Parenteses (abri duas abas no blog, uma para refletir efetivamente sobre o projeto e essa para refletir efusivamente sobre o Presente).

“Não basta apenas pensar antes de escrever, na tentativa de criar algo nosso. É preciso pensar para viver algo nosso – antes de repetir a vida dos outros.” Eliane Brum, Vida Clichê (2009)

Não faz muito tempo que mandei um e-mail para a Professora Luciana como o título “Assuntos vários” pedindo diversas referências sobre acervo\memória\arquivo e alguns outros temas que farão parte da pesquisa que comecei a desenvolver recentemente no Programa de Pós-graduação em literatura da UFSCar. No fim desse e-mail que tratava de “assuntos vários” aproveitei para pedir algumas sugestões de como aprender a revisar\melhorar meus próprios textos. A resposta veio cheia de reflexões sobre o modo como a escrita nos coloca no mundo. Seria a escrita para nós um modo de ser e estar no mundo? Sem dúvida. 

“Escrever é um modo de por-se no mundo; como todos os outros, requer apropriação, o que supõe aproximação, testagem, experimentos… o que, por sua vez, inclui escrever e submeter ao outro… a um outro… É meio horas de voo, sabe? Não sei se consigo te ajudar…. perdón…”

Resposta da Professora Luciana ao meu pedido de “ajuda” para escrever.

Fiquei com essa informação reverberando na minha cabeça por algum dias, comecei a refletir até sobre as mensagem de whatsapp que envio, pensando que por meio do que eu escrevia ali eu seria bem ou mal interpretada, de certo modo reconhecida. A escrita é um modo de estar no mundo, certo? Não há dúvida.

Não há como discordar do poder e da força da escrita, da importância de escrever e posicionar-se, mas eu (e vários) estamos no mundo de maneira insegura, achando que os textos próprios são ruins e mal escritos. Por que tantos se sentem assim?

Uma pergunta que venho me fazendo há algum tempo é  Por que temos medo tanto medo de escrever?  Será que é porque nos ensinam e suscitam a leitura e não a escrita? As campanhas são sempre e apenas para a leitura nunca para escrita. Será que algo mudaria se o “Leia mais” viesse com um “Escreva mais?”

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Em tempos de esgarçamento social e disputas discursivas, quero deixar claro, dizer com todas as letras, que não estou desmerecendo ou questionando o valor e a importância da leitura e das campanhas para promover a leitura no cenário brasileiro. O que coloco em questão é porque o direito de escrever não é dado a todos, porque suscitam a leitura sem a escrita (As duas não andam juntas?). Se o direito de escrever fosse dado a todos teríamos mais Carolina(s) Maria(s) de Jesus(s)?  

Aqui está uma importante discussão referente ao direito a escrita. Talvez essa questão pudesse vir junto com o direito a literatura.

Nas aulas de dança ensinam dança, nas aula de teatro a atuação, nas de canto a cantar, nas de desenho a desenhar, porque será que nós não somos ensinados a escrever e sim a ler?. 

(Sou uma escritora cheia de parêntesis, prometo fechar todos)  Colocar-me-ia diante de todos? Parece que essa questão começou a aparecer também para os meus colegas, papo aqui, papo acolá, todo mundo com “medo” de escrever no tal do blog.

Uma constatação, obvia para muitos e importante para mim. As nossas leituras ecoam em nossas vidas e em nossas experiências de diversas maneiras.

Agora falaremos sobre o texto que faz ecoar e permite escrever. Em meio as mil leituras (um cotidiano novo, de estudante de pós-graduação) que preciso fazer para cumprir com o cronograma do mestrado, com as disciplinas obrigatórias da pós e etc… decidi que iria começar um livro de Eliane Brum, tenho muita admiração pela trajetória dessa pessoa. Não era rica, foi mãe aos quinze anos e conseguiu dar um sentido único a sua existência. 

Comecei lendo A menina quebrada, que puta livro lindo, está dentro do Jornalismo literário, que literatura!

Confesso que ainda não terminei de ler e não sei quando poderei terminar. O livro reúne reportagens publicadas por Eliane Brum dentro de um certo período de tempo. 

São histórias chocantes e emocionantes, mais do que isso, são histórias vividas, daquelas que marcam a vida e não saem da cabeça, que vão seguir reverberando e transformando nossos olhares sobre diversos aspectos em diversos momentos de nossa pequena e singela existência. Ler Eliane Brum me faz olhar para o mundo com mais empatia, humanidade e humildade. 

Eliane Brum escreveu um texto intitulado Vida de clichês (2009). A reflexão de Brum tem início por conta de uma publicação O pai dos burros – Dicionário de lugares comum do jornalista Humberto Werneck. Boa leitora que é, Eliane Brum não só leu como passou a refletir e a se incomodar com\sobre os clichês de nossas vidas. É emocionante saber que não há ninguém como a gente, que somos únicos, o modo como Brum conduz essa reflexão da vontade de nunca mais cometer nenhum clichês.

Deu vontade de sair inventando um jeito próprio de viver de se inscrever no mundo.

Ela como escritora fala dos clichês da escrita, mas tudo que ela escreve se expande para o modo de viver, seria a escrita um modo de viver? Sem dúvida.

Então a história é essa, mais um texto lindo da Eliane Brum sobre a necessidade que temos de repensar TODOS  os clichês? Sim, é isso! Mas, o que nós e esse blog temos a ver com tudo isso?

O método avaliativo da disciplina, posso garantir incomodou muita gente! Que exercício é esse, vou deixar que me leiam semanalmente???

Já estamos acostumados, ainda que não seja fácil, ser avaliados por meio de prova, artigos e seminários, esses métodos avaliativos trazem um certo “conforto”, sabemos o que é esperado de nós.

Ser avaliado por meio de uma escrita periódica num blog provocou desconforto, porque tem a ver com ser lidos e nós (muitos de nós) temos medo de ser lidos. 

 Eliane Brum diz que “Ao repetir uma ideia velha, o que foi dito e redito por tantos antes de nós, nada sai do nosso controle. Também nada acontece. Uma nova ideia é sempre um risco, não sabemos aonde ela vai nos levas” (Brum, 2009).

O grande incomodo não sabemos onde esse blog irá nos levar…

Eu estou tentando pensar minha vida como uma forma única, minha e própria de existir, tentando entender meu caminho fora dos clichês pré-estabelecidos e agora até dicionarizados e esse blog faz parte disso, eu vi uma fuga de clichês metodológicos e avaliativos, uma fuga de um padrão bibliográfico (cronograma de aula) e uma possibilidade de uma escrita única e minha.

Aqui está um modo possível de me colocar no mundo, que me permite estabelecer relações entre os textos que leio “na vida” e os que leio na universidade. Essa reflexão sobre o não clichê bem grande que a disciplina estudar objetos editorias tem sido para mim está ecoando a muito tempo, hoje foi dia de colocá-la no mundo.

“Apesar da pilha de empecilho-clichês que temos na ponta da língua para ocultar nossos medos de arriscar, se formos pensar com a necessária honestidade, a vida está mesmo mais perto do que longe das nossas mãos.” (Brum, 2009)

Falo de outros métodos avaliativos (já conhecidos) como sendo clichês, mas com ressalvas, uma das questões que Brum coloca é que se pode seguir “padrões” modo de viver, escrever e estar no mundo já conhecido desde que eles façam sentido em nossas vidas, que nós não estejamos apenas nos encaixando para evitar incômodos.

No fim eu estou amando estar no mundo com meus textos que dizem tanto sobre como “estou estando no mundo”. Espero que quem passar por aqui saia encorajado a estar no mundo (vida\texto) de forma única.

Uma reflexão que acabou sendo retomada por meio dessa discussão e a relação entre leitura e escrita… Algo que irei investigar, porque os universitário sentem medo de escrever? Tenho amigos nas humanidades com medo de escrever, amigos nas exatas com medo de escrever, amigos nas biológicas com medo de escrever, por que? 

Sobre a importância da inutilidade

#30M

Pensar, talvez seja o verbo\Ação mais recorrente na acadêmia, Temos que ser propositivos dizem…

Por meio dessa afirmação proponho duas discussões distintas, mas que se interseccionam em um mesmo tema: A fala da professora Rejane realizada no dia 15 de maio que me permite pensar na importância da inutilidade e na exemplificação de um enxame que se fez multidão. Aqui, quero discutir também a noção de comunidade (termo do Indicionário do contemporâneo, Editora UFMG)  e que muito dialoga com as questões de Paolo Virno em seu livro A gramática da Multidão. 

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O grande tema, as mobilizações que tem acontecido por conta dos cortes orçamentários na Educação. Talvez possa parecer um giro muito louco, uma viagem essa discussão, mas o que quero propor é um modo de mostrar o impacto do #15M e do #30M nas nossas proposições, no modo como nos colocamos como acadêmicos (aqui um pouco da minha experiência individual com a pesquisa e o curso de letras).

Muito aconteceu depois da canetada de Jair Bolsonaro, canetada que destrói a educação, que deve ser tratada como destruição sem o eufemismo da vez: Contingenciamento. 

A universidade publica gratuita e de qualidade, sonho de Lula, Dilma e de milhões de brasileiros tem sido descreditada e subjugada pelos atuais donos do poder. O descaso com o ensino publico e com o conhecimento cientifico veio amparado por graves cortes na educação. Cortes esses que fizeram o enxame virar multidão, mas o que precisa acontecer para que um enxame vire multidão?